Dentre as diversas debates e lutas
históricas do movimento negro brasileiro, me chama atenção, as preocupações sobre
o fato do racismo se expressar na cultura e como se
traduz nas políticas culturais.
Os vários diálogos empreendidos pelos
movimentos culturais do país, os encontros, conferências e fóruns trouxeram
para a cena política e para o debate de políticas públicas de cultura, as
preocupações de Artistas e produtoras (es) negras (os) de teatro e dança que
denunciam a flagrante discriminação de artistas negras (os) nos espetáculos de
dança, teatro, programas de televisão e cinema, onde a imagem de mulheres e
homens negros é, em geral, apresentada de forma negativa, estereotipada e
sexualizada. Grupos e companhias de teatro e dança brasileiros como o Bando de
Teatro Olodum (Bahia), Cia dos Comuns (Rio de Janeiro), Ifa Haradá de Arte
Negra (Olinda), Balé Afro Bacnaré, Majê Molê e Daruê Malungo, ambos de Recife.
Tiveram papel fundamental na denúncia.
Um dos personagens marcantes desse
debate é Hilton Cobra, Ator Diretor e ex presidentes da Fundação Cultural
Palmares. Que protagonizou a realização do I, II, II e IV Fóruns Nacionais de
Performance Negra. Durante os fóruns, artistas e produtores negros refletiram:
- Que os espetáculos de teatro e dança negros não tem
espaço nas pautas dos chamados espaços de excelência como casas de espetáculos
e teatros de grande referência, sobretudo nos centros urbanos de capitais;
- A produção de cinema, televisão ou novelas,
exceto nas chamadas produção “de época”, nos últimos anos não tem presença de
negros como protagonistas e seus elencos não chegam a 10% de atores e atrizes
negras, mesmo contando com as chamadas pontas ou figurantes. encontramos raras exceções;
- No campo da cultura e de seus matizes,
comunidades tradicionais de matriz africana, quilombolas, indígenas, ciganos,
entre outros, não figuram como protagonistas, participes ou alvos de políticas
públicas ou ações do sistema público ou privado de cultura. Segmentos
tradicionais são praticamente invisíveis nos meios de comunicação, nos projetos
de financiamento ou fomento a cultura. Esta invisibilidade configura um
prejuízo para a produção do conhecimento sobre a cultura brasileira, para a
inclusão sócio econômica de populações historicamente discriminadas, em
especial a população negra e reforça a construção de imagens negativas
atribuídas a essa população, fazendo do racismo institucional um mote pelo qual
as políticas públicas na área de cultura são pensadas.
Conclui-se que é preciso seguir firmes na lua para que hajam políticas públicas
de cultura comprometidas com a desconstrução do racismo. Para que os gestores
de cultura não se omitam diante das necessidades de ações afirmativas para a
arte e a cultura negra, esperamos que a cultura faça sua parte no enfrentamento
ao racismo.
O debate empreendido por artistas e
produtores negros gerou em 2013 os editais afirmativos do Ministério da Cultura
- MINC numa parceria Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial da Presidência da República - SEPPIR e Biblioteca Nacional, Secretaria
de Áudio Visual do MINC e FUNARTE.
Hilton Cobra, ator e diretor/ Acervo
No
primeiro momento da divulgação dos editais, houve pouca participação nas
inscrições. O MINC em parceria com a SEPPIR observou que a pouca adesão se
deram por dois motivos principalmente. A comunidade artística e produtores
negros já não confiavam mais na política de editais, e pelo fato da forma de
divulgar não ser suficiente para atingir o segmento. Assim a tomou-se a
iniciativa de intensificar a divulgação, alargar os prazos de inscrições e
realizar oficinas regionais sobre editais. O resultado foi mais de oito mil
inscrições de projetos de artistas e produtores negros. O que nos leva a crer
que existe uma grande demanda na área.
Lindivaldo Junior Afro
Hilton Cobra, ator e diretor/ Acervo
Arraso!!! Vamos nos manter firmes na luta!!!
ResponderExcluirAdorei o blog, parabéns !!!!!
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