terça-feira, 28 de abril de 2020

CULTURA COMO ESPAÇO DE PROMOÇÃO A SAÚDE 

Nesse momento de COVID-19 a cultura é um alento. É fundamental.

por Lindivaldo Junior*

Estamos vivendo tempos difíceis, às voltas de um grande problema de saúde. Uma crise mundial devido à pandemia do novo coronavírus já espalhado nos diversos continentes. Autoridades políticas, pesquisadores e profissionais da saúde têm afirmado o papel importante da sociedade para barrar o avanço da doença.

O isolamento social, paralisação de serviços não essenciais, o uso de máscara, o cuidado com idosos e pessoas mais vulneráveis têm sido a orientação até que se encontre uma solução mais eficaz ou definitiva para vencer a pandemia. Em momentos como esses, a cultura é um alento. É fundamental.

                                                      Ana Benedita, atriz e contadora de história

Estamos vivendo tempos difíceis, às voltas de um grande problema de saúde. Uma crise mundial devido à pandemia do novo coronavírus já espalhado nos diversos continentes. Autoridades políticas, pesquisadores e profissionais da saúde têm afirmado o papel importante da sociedade para barrar o avanço da doença.

O isolamento social, paralisação de serviços não essenciais, o uso de máscara, o cuidado com idosos e pessoas mais vulneráveis têm sido a orientação até que se encontre uma solução mais eficaz ou definitiva para vencer a pandemia. Em momentos como esses, a cultura é um alento. É fundamental.

Entre os serviços considerados não essenciais que foram suspensos como parte das medidas para conter o avanço da COVID-19 no nosso estado estão os clubes, teatros, casas de espetáculo, cinemas e as atividades de grupos culturais. A pandemia paralisou nosso setor cultural.

Mais que um problema econômico, a paralisação de ações desses serviços tem interferência na função primordial da cultura, o intangível. Notadamente, a sociabilidade e fortalecimento das relações sociais e laços afetivos promovidos pela cultura.

A música, a dança, a poesia, o cinema, as diversas produções e expressões culturais que atuam como forma de se conectar com as coisas boas e singulares da vida, com o sonho, as lembranças, o acolhimento, a esperança de dias melhores, são essenciais. Manter suas dinâmicas na crise se configura um desafio.

O Brasil tem orgulho de sua cultura, de sua diversidade e das políticas para o setor historicamente. No entanto, a realidade o que temos hoje é um governo federal desconectado da importância dos programas de assistência social e de saúde pública, que não promove políticas culturais, nem mantém aquelas que lutamos tanto para ver implementadas.

O governo Bolsonaro trabalha para o desmonte do patrimônio público. É subserviente ao capital, dissemina o ódio e opera um modelo familiar e patrimonialista. Sua condução política é desequilibrada, incapaz do diálogo com a sociedade e os outros poderes constituídos. Promove o sucateando de áreas fundamentais como educação e saúde, ao ponto que defende projetos de lei que inviabilizam as condições de governabilidade, como o PL do congelamento dos gastos.

Perseguidor, antidemocrático e xenófobo, Bolsonaro vê a todos que estão fora de sua base como inimigos. Mente, desrespeita organizações internacionais, defende teorias completamente equivocadas e sem reflexão profunda, não cumpre recomendações básicas da Organização Mundial de Saúde - OMS e do Ministério da Saúde. Bolsonaro e sua turma atrapalham o trabalho coletivo e a solidariedade, necessários em tempos de pandemia.

Todavia, a pressão social e política têm dado sua contribuição e ajudado o país. Pesquisas apontam que parcela significativa da população aprova e adere às orientações da OMS para o combate ao coronavírus.  Tais pressões surtiram efeito, e levaram o Congresso a aprovar ações emergenciais que reafirmam a importância do Sistema Único de Saúde – SUS e o Sistema de Assistência Social – SUAS como instituições essenciais em qualquer tempo.

As ações se somam ao conjunto de iniciativas públicas de estados e municípios comprometidos com o bem-estar social, com destaque para a articulação e compromisso dos governadores da Região Nordeste, que têm impulsionado políticas públicas de proteção da população e melhoria do acesso atendimento à saúde, na tentativa de enfrentar as deficiências do SUS.

Os programas e ações governamentais têm nos movimentos sociais - organizações, coletivos culturais e pessoas individualmente - grandes colaboradores para o cuidado com as pessoas, em especial as pessoas em situação de vulnerabilidade. Tendo em vista que o isolamento e a suspensão de algumas atividades profissionais são compreendidos como medidas para barrar o crescimento da pandemia, aprofundando os problemas de exclusão econômica e social.

Assim, ao tempo em que se pensa em ações que amenizam os impactos da crise na economia e no agravamento dos problemas sociais já existentes (desde 2017, o Brasil voltou ao mapa mundial da fome e cidades como Recife tem um terço de sua população a baixo da linha da pobreza), se faz necessário um olhar sobre o segmento cultural, sua dinâmica e real contribuição para a qualidade de vida das pessoas.

Compreender que a cultura é fonte de renda, mecanismo impulsionador de desenvolvimento econômico e social e principalmente seu papel social, talvez seja tão importante quanto às outras iniciativas para o cuidado com as pessoas em tempos de pandemia.

O isolamento social também reforçou a internet como mecanismo de disseminação da arte, aulas, palestras, bate-papo. As transmissões ao vivo pelas redes sociais, ou lives, têm transmitido mensagens de força e esperança que são importantes para amenizar o sentimento de terra arrasada, provocada tanto pela pandemia quando pelo desastre que é o governo Bolsonaro.
Mas, infelizmente, nem toda população têm acesso ao que é produzido na rede.

Temos visto que impactos para além da economia, embora toda uma cadeia produtiva da cultura com seus trabalhadores são afetados pelo fechamento de casas de espetáculos, cinemas, bares, espaços culturais, cancelamento de festivais, ciclos festivos e eventos tradicionais têm efeito, mas nas relações humanas que são fundamentais para a saúde das pessoas e das comunidades.

Mestres das tradições culturais populares, das culturas negras, indígenas, lideranças que constituem referências positivas para a história do país e, sobretudo para as suas comunidades e povos, personagens das festas tradicionais populares como rainhas de maracatu, mestres de apito, caboclos, que no seu cotidiano constituem referencia positiva e atuam como lideranças em seus territórios. Suas ações são fundamentais para a promoção da vida.
Elas são Madrinhas, benzedeiras, parteiras, doulas, mães e pais de santo, dirigentes de grupos e associações que precisam ser valorizados e fortalecidos nesse contexto que vivemos.

Tais lideranças, não esperam pelo poder público para exercer seu papel acolhedor, orientador e solidário, expressando o que tem de mais profundo no que se refere à saúde integral do indivíduo, que não acontece só em tempos de pandemia.

A sede de uma agremiação carnavalesca, os centros culturais, pontos de cultura, bem como as casas de Candomblé e Umbanda, mantenedoras de tradições culturais de matriz africana, constituem espaços de acolhimento e promoção à saúde.

O legado e a reconhecida solidez das políticas nacionais de cultura elaboradas por governos anteriores no Brasil deixaram como frutos ações locais, focadas nos estados e municípios, como a construção de seus planos setoriais de cultura de acordo com as espeficidades de cada localidade.

Essa perspectiva coloca nas políticas locais uma ponta de esperança para a valorização do setor cultural do estado e indicam que o governador e os prefeitos devem arcar com os pagamentos para os setores culturais por atividades realizadas antes da pandemia e reforçar a atuação para que a cultura cumpra seu papel no desenvolvimento social e econômico, e o seu inegável papel como espaço de cuidado com as pessoas.

É preciso pensar ações públicas emergenciais para a cultura, órgãos estaduais de cultura podem promover chamadas públicas ou editais emergenciais para fortalecer as iniciativas de grupos populares, artistas em suas iniciativas nas comunidades e também por meio das redes sociais. Esse compromisso é fundamental para reconhecer que a cultura é promotora do bem estar, da proteção integral, de promoção à saúde.
#fiqueemcasa #forabolsonaro

Recife, 23 de Abril de 2020.


*LEITE JUNIOR, Lindivaldo - Tem formação em história pela UFRPE, pós-graduado em Gestão e Políticas Culturais pela UFRB, Mestrando em Governo e Políticas Públicas pela FLACSOS
REFERÊNCIAS
SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso. GMT Editores Ltda. Rio de Janeiro, 2019.
RUBIM, Albino. Política Cultural e Gestão Pública no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2016.
MORAES, Regina.As metas do Plano Nacional de Cultura. Brasília: Ministério da Cultura, 2003.