Valeu Zumbi!
o grito forte dos
palmares
Que correu terras,
céus e mares
Influenciando a
abolição
(Kizomba, a festa da
raça[1]).
Monumento a Zumbi no Recife
CELEBRAÇÃO A PALMARES
As
comemorações do novembro da consciência negra têm um papel fundamental para
promover a compreensão sobre a necessidade de justiça social e a radicalidade
na luta contra o racismo. Já que o Dia da Consciência Negra faz referência ao
maior quilombo das Américas – o Quilombo dos Palmares, uma experiência de
combate ao racismo, num modelo de organização social justa que durou aproximadamente
cem anos.
Quando
o Movimento Negro Brasileiro instituiu o 20 de novembro como Dia da Consciência
Negra, na década de setenta do século passado, promoveu uma grande contribuição
para a História do Brasil. Isso fez com que as comemorações iniciadas pelo
Grupo Cultural Palmares, no Rio Grande do Sul, ganhassem projeção nacional.
Tal
contribuição se configura uma contraposição à historiografia oficial, branca,
eurocêntrica, que produzia (e ainda produz) heróis e heroínas brancos, como se
a imensa população de negros e negras no Brasil tivesse esperado de forma
passiva ao fim da escravização. Foi o movimento social, assim como em outros
momentos da história, quem com suas atitudes ousadas, produziu o reconhecimento
da história dos negros e negras brasileiros, transformando Zumbi, Ganga Zumba,
Dandara, Akotirene, Aqualtune e suas comunidades em protagonistas de sua
própria história.
Atualmente,
o Dia Nacional da Consciência Negra, é comemorado em todo o território nacional
e em mais de mil cidades brasileiras é também feriado. Esse reconhecimento
histórico, traduzido nos calendários oficiais de diversos municípios,
impulsionou a inclusão da data no calendário oficial brasileiro, com a
publicação do decreto lei 12.519/11, da presidenta democraticamente eleita
Dilma Rousseff, instituindo o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.
Transformando
Zumbi em Herói Nacional.
Aqui, você pode conferir
a lista de cidades brasileiras que de norte a sul do país celebram o 20 de
Novembro. Intriga não encontrarmos nenhuma cidade pernambucana na lista. http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2013/11/Estados-e-Munic%C3%ADpios-que-Decretaram-Feriado-no-Dia-20-de-Novembro-dia-da-Consci%C3%AAncia-Negra1.pdf
Porque o Dia Nacional
da Consciência Negra não é feriado em Pernambuco?
Há
de se refletir os motivos pelos quais as propostas de feriado nunca foram
levadas a sério em Pernambuco. O que estaria por traz dessa resistência ao
feriado histórico para a população negra, o que pensa a classe política sobre
esse assunto?
O
Estado de Pernambuco não dar a devida atenção à data, esconde fatos históricos
importantes, além privar a população da cidade de um conhecimento importante e necessário.
Entre eles, o papel da então capitania de Pernambuco na destruição de Palmares,
seu protagonismo nas emboscadas contra o Quilombo, além do fato da cabeça de
Zumbi ter sido exposta aqui no centro da cidade, mais precisamente na praça do
Carmo. Seria vergonha em admitir o papel do Estado nesse massacre do povo negro
ou mera omissão histórica?
A
despeito do fato de o Estado de Pernambuco ainda não reconhecer como feriado o
20 de Novembro, as comemorações são muitas, tanto oficialmente, nos últimos
anos tem mantido o compromisso em celebrar o dia, a semana ou até o Mês da Consciência
Negra, quanto pela sociedade civil organizada.
Todavia,
há de se considerar que tais comemorações, que são sim fundamentais, não podem ser
resumidas em festas de rua, bailes, nem a exaltação da beleza e estética
negras, ou a criatividade nos turbantes e adereços característicos das
tradições de matriz africana.
Mas é preciso ir além.
O
20 de Novembro é momento tanto para o reconhecimento de que só foi possível a
existência de uma legislação que declara o fim da escravidão no Brasil devido à
luta política e organizada dos negros escravizados, através dos quilombos, como
é preciso garantir um sentido de protesto contra as várias manifestações do
racismo brasileiro, no campo do simbólico e no campo institucional.
O
compromisso impulsionado na celebração do Dia da Consciência Negra é de
celebrar as conquistas da população negra, com a instituição de políticas de
ações afirmativas, a criação do Estatuto da Igualdade Racial, de celebrar a
cultura e o reconhecimento dos territórios quilombolas.
Não podemos abrir
a guarda!
A
sociedade civil organizada, a população negra, os ativistas, devem aproveitar o
20 de Novembro como espaço para denunciar a pouca eficácia das políticas
públicas, no tocante da desigualdade no mercado de trabalho, as políticas de
segurança, que seguem coniventes com as mortes por armas de fogo da juventude
negra, a violência e o preconceito contra mulheres negras, o preconceito e
intolerância às tradições religiosas de matriz africana, a invisibilidade dos
negros nos meios de comunicação de massa, na arte, nas propagandas
institucionais.
Do
outro lado, está a responsabilidade do poder público em celebrar a consciência
negra como prevê a Lei 12.519\2011. Para o Estado brasileiro, celebrar a
consciência negra deve ser buscar enfrentar o racismo institucional, além de
realizar atividades apenas relacionadas ao calendário escolar, que conta quase
que exclusivamente com o emprenho dos professores. A oficialidade deve prestar
contas à sociedade a respeito do trabalho que vem desenvolvendo ao longo do
ano, para reparar os danos causados por séculos de escravização, seguida pela
permanente discriminação racial contra a população negra.
Confiraaqui e abaxo a agenda das celebrações pelo Dia da Consciência Negra, elaboradas pelo governo
do estado e movimento social.
O momento ainda pede questionamento
e diálogo!
É
preciso aproveitar a semana da Consciência Negra para o questionamento e o
diálogo sobre o compromisso do poder público com a instituição de políticas
públicas de ações afirmativas, dar publicidade a seus avanços na saúde, na
educação, no enfrentamento a violência. É buscar a inclusão dos negros e negras
no mercado de trabalho, e enfrentar para reduzir o extermínio da juventude negra, enfim que o poder público preste
contas de sua tarefa em fazer cumprir o Estatuto da Igualdade Racial (lei
12.288/2010).
Um pouco da história
do Quilombo dos Palmares
O
Dia nacional da Consciência Negra - 20 de novembro, é celebrado em alusão ao
dia em que se registra um dos ataques ao então Quilombo dos Palmares, ou
República de Palmares, nos idos do século XVII, que terminou com a morte do seu
líder maior, Zumbi.
O
Território do Quilombo pertencia a capitania de Pernambuco, numa enorme faixa
de terras que possibilitava a existência de um conjunto de comunidades, A Serra da Barriga que conhecemos hoje, pertence ao estado de Alagoas na cidade de
União dos Palmares, ali se localizava a capital política de Palmares.
O
território de Palmares era formado por uma dezena de comunidades quilombolas
que articuladas entre si, formavam uma sociedade a parte do Brasil, uma alternativa
para a população negra e aliados com estruturada social e econômica, independente
da coroa portuguesa. Essa estrutura social e política fez com que estudiosos
considerassem o território, uma república negra.
A
prática de estruturação de quilombos, espalhados por todo o território nacional,
foram do ponto de vista de organização e de continuidade histórica a maior
expressão de resistência à escravidão no Brasil. O historiador Clovis Moura
descreve os quilombos brasileiros como lugar de resistência ao escravismo.
“O Quilombo caracteriza-se basicamente pela
sua conotação radical, como expressão da radicalidade diante do escravismo.
Esta radicalidade vem da própria essência da sociedade escravista. Nela não
pode existir posição de negação a não ser se ela for radical.... ”(Clovis Moura
– história do negro no Brasil²).
________________________________________
[1] Enredo da
Escola de Samba Vila Isabel. Rio de Janeiro, 1988).
²
Texto Formas de resistência do negro escravizado e afro-descendente de Clovis
Moura em História do negro no Brasil.
Mas, como diria Mãe
Bethe de Oxum, a gente também se
reconhece na festa!
Dia
20 de Novembro Olinda e Recife
III
Festival Coco de Roda Zumbi Olinda no Bairro de Guadalupe, a partir das 16h.
Obá
Nijé e Mmamão de Xambá no Alto Santa Terezinha a partir das 14h
Emoriô
– Festa para se Ver Artes
Museu
de Artes Afro-Brasil Rolando Toro – Bairro do Recife
Lamento
Negro
Caminhada
da Consciência Negra – Saindo do Mercado do Varadouro em Olinda 16h
Cultura
na Linha
Por
Traz da Fábrica de café – Linha do Tiro – Recife a partir das 14h
Muito bom ! conteúdo excelente e informações necessárias.
ResponderExcluirValeu Jose, temos muito o que dialogar sobre o significado da consciência negra.
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