sexta-feira, 25 de novembro de 2016

ENTENDA A NOITE DO CABELO PIXAIM

Carapinha, Afro, Cacheado, Crespo. Eu prefiro dizer Pixaim mesmo, 




Criada na década de noventa em Olinda - PE, a Noite do Cabelo Pixaim reverencia o cabelo do negro, o relaciona a identidade, a afirmação da cultura e a valorização de uma estética e beleza próprias da população negra.

Na década de noventa, em Pernambuco, uma juventude negra antenada e consciente do seu papel no combate ao racismo, fez dos palcos dos ensaios e festas do Afoxé Alafin Oyó seu lugar de militância social e política, criando festas como a Noite do Cabelo Pixaim, a Noite do Cafuné, entre outras.



Essa militância promoveu um intenso debate sobre as várias manifestações do racismo, se utilizando da criatividade das expressões culturais negras como forma de expandir suas mensagens e seus discursos. Com a Noite do cabelo Pixaim, trouxe à cena um elemento fundamental na luta pela afirmação da estética e beleza negra: o cabelo crespo.
Falar sobre e mostrar o cabelo crespo é decisivo para o debate, já que esse é o principal alvo da discriminação e do preconceito. E isso se torna ainda mais perverso para crianças e mulheres, que são oprimidas pela ditadura do cabelo liso e da estética branca, o que prejudica a vida social e familiar.

Atualmente, e a partir de uma maior presença negra nas universidades e entre os pesquisadores, os estudos sobre cabelo e estética negras nos ajuda a entender um pouco desse complexo universo de exclusão e inferiorização da população negra, por meio da negação do corpo negro, em especial do cabelo.   Por outro lado, também torna possível acompanhar a exaltação ao universo da criatividade e resistência negra identitária, por meio de penteados afro, cortes específicos, salões e movimentos afirmativos, que compreendem o cabelo numa perspectiva de identidade.

Em torno da manipulação do corpo
e do cabelo do negro,
existe uma vasta história.
Uma história ancestral e uma memória.
(Dra. Nilma Lino Gomes – Professora e Pesquisadora - UFMG)


Noite do Cabelo Pixaim

Como parte de um movimento que teve início na década 90 amanhã, sábado, 26 de Novembro, o Clube Atlântico de Olinda, recebe a edição anual da Noite do Cabelo Pixaim. Esse é mais um momento de exaltação à estética, beleza e cultura negra. É mais um dia de resistência. Prepare-se, não esconda seu cabelo, solte sua “juba”, explore a criatividade dos cortes, trançados e penteados afro e vá!!!
Já chegue cantando uma das músicas do cardápio do Afoxé Alafin e reafirme sua identidade!
A festa é regada a muita música percussiva, culinária afro, arte e moda, onde também acontece o 10º Festival de Música do Alafin, que vai escolher a música do Carnaval 2017. Na programação - Afoxé Alafin Oyó, Filhos de Dona Maria do DF, Lamento Negro, NK Cumbia, culinária afro, desfile de roupas e cabelos.


Raça Negra, uma questão de identidade,
Cabelo Pixaim, cor da pele preta,
Meu amigo não tenha dúvida,
Você é da raça negra.
Raça negra, uma questão de Identidade



Afoxé Alafin Oyó

Ávidos por uma atuação independente, por debater temas, fazer formação política e denunciar as várias formas de expressão do racismo brasileiro, um grupo de jovens militantes do movimento negro pernambucano, que compunham a Ala de Xangô do Afoxé Ará Odé, grupo também de cidade de Olinda, criou o seu próprio afoxé: o Afafin Oyó.
A manifestação cultural é, em primeiro lugar, uma agremiação carnavalesca, que atua em cortejo, levando a frente seu estandarte e carregando seus símbolos. Tem sua versão para o palco, apresentando-se como uma atração artística de música e de dança, bem como para as atividades ligadas a religiosidade, vivendo um constante desafio para não perder suas características e tradições culturais.
O ritmo do Ijexá, tocado nas casas de Candomblé, guardam suas semelhanças e identidades dos terreiros, com instrumentos como atabaque (Rum, Rumpi e o Lé), o agogô, o tantam e o agbê como base fundamental da sonoridade Nagô Yorubá.
Os cânticos fazem referência aos orikis (histórias) dos Orixás (divindades das tradições afro religiosa), a suas cores e arquétipos e a estética exalta as nações de Candomblé, as quais estão vinculadas a afirmação de uma identidade negra característica do seu território físico e sagrado, e do contexto em que o afoxé surge.

Tradicionalmente, cada afoxé teu seu Orixá como patrono, que estão representados em suas cores, adereços e vestimentas. O exemplo primeiro, pelo menos até onde se sabe, é o Afoxé Filhos de Gadhi da Bahia, que embora não carregue no seu nome do Orixá patrono, o faz nas cores e nas músicas, em referência e homenagem explicita a Oxalá. Sem medo da repressão, do preconceito e da intolerância, vestem branco, soltam pombos e reafirma a cor da divindade funfum.

Em Pernambuco, e pode ser assim no conjunto dos afoxés existente em outros estados brasileiros, os grupos seguem a tradição refletida primeiramente no nome. O Afoxé Ará Odé, o mais antigo em atividade no estado, tem o Orixá Oxossi (ou Odé) como patrono, veste-se as cores azul claro e branco. O Afoxé Oxum Pandá – tem Oxum como patronesse, usam o amarelo.  O Alafin Oyó – que tem o Orixá Xangô como patrono, veste vermelho e branco.

Os demais afoxés, mais de vinte grupos em Pernambuco, seguem essa tradição que nos ajuda a identificar o patrono do afoxé pela cor. Vermelho – Xangô, Azul – Ogum, Rosa ou Marrom – Oyá, e as homenagens seguem, regra geral, refletida nas cores e símbolos de seus orixás patronos.


CABELO

O legado da luta do movimento negro brasileiro, toda a sua movimentação, estudos e protestos em torno do cabelo como identidade fez surgir, não só a noite do Cabelo Pixaim, mas um conjunto de outras festas, atos, debates, empreendimentos comerciais e movimentos que exaltam e também discutem a afirmação da identidade negra por meio do cabelo. Um exemplo é Movimento Cabelaço em Pernambuco e da Marcha do Empoderamento Crespo na Bahia, entre outros.

Fez também surgir uma movimentação que pode ser identificada como a moda ou tendência do cabelo crespo, afro ou black. O certo é que, moda ou não, essa explosão de cabelos negros que encontramos hoje pelas ruas é sim uma forma de rebeldia e afirmação de identidade negra para enfrentar o racismo presente no cotidiano, se mostrar insurgente e empreender uma marca positiva.

É pura ousadia, numa sociedade racista que atribui e aplica estereótipos negativos ao cabelo pixaim, o adjetivando como “ruim”, “duro”, “bombril”.
Nós os negros sabemos o quanto um jovem, uma jovem que assumem seu cabelo “ao natural”, se sente forte, reconhecido, e por meio do cabelo, promovem um exercício cotidiano e corpóreo de cidadania.

O Cabelo é um dos elementos mais visíveis e destacados do corpo. Em todo grupo étnico ele é tratado e manipulado, todavia a sua simbologia difere de cultura para a cultura. Esse caráter universal e particular do cabelo atesta a sua importância como símbolo indenitário. (Procure ler - Dra. Nilma Lino Gomes – Professora e Pesquisadora da UFMG)

PARA DISCUTIR O TEMA RECOMENDA-SE:
Exposição – Cabelo, uma questão de identidade


Site – Geledés, instituto da mulher negra

Professora Doutora Nilma Lino Gomes – UFMG
 




quinta-feira, 17 de novembro de 2016

20 de Novembro, Dia Nacional da Consciência Negra



Valeu Zumbi!
o grito forte dos palmares
Que correu terras, céus e mares
Influenciando a abolição
(Kizomba, a festa da raça[1]).



    Monumento a Zumbi no Recife


CELEBRAÇÃO A PALMARES

As comemorações do novembro da consciência negra têm um papel fundamental para promover a compreensão sobre a necessidade de justiça social e a radicalidade na luta contra o racismo. Já que o Dia da Consciência Negra faz referência ao maior quilombo das Américas – o Quilombo dos Palmares, uma experiência de combate ao racismo, num modelo de organização social justa que durou aproximadamente cem anos.

Quando o Movimento Negro Brasileiro instituiu o 20 de novembro como Dia da Consciência Negra, na década de setenta do século passado, promoveu uma grande contribuição para a História do Brasil. Isso fez com que as comemorações iniciadas pelo Grupo Cultural Palmares, no Rio Grande do Sul, ganhassem projeção nacional.

Tal contribuição se configura uma contraposição à historiografia oficial, branca, eurocêntrica, que produzia (e ainda produz) heróis e heroínas brancos, como se a imensa população de negros e negras no Brasil tivesse esperado de forma passiva ao fim da escravização. Foi o movimento social, assim como em outros momentos da história, quem com suas atitudes ousadas, produziu o reconhecimento da história dos negros e negras brasileiros, transformando Zumbi, Ganga Zumba, Dandara, Akotirene, Aqualtune e suas comunidades em protagonistas de sua própria história.

Atualmente, o Dia Nacional da Consciência Negra, é comemorado em todo o território nacional e em mais de mil cidades brasileiras é também feriado. Esse reconhecimento histórico, traduzido nos calendários oficiais de diversos municípios, impulsionou a inclusão da data no calendário oficial brasileiro, com a publicação do decreto lei 12.519/11, da presidenta democraticamente eleita Dilma Rousseff, instituindo o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Transformando Zumbi em Herói Nacional.



Aqui, você pode conferir a lista de cidades brasileiras que de norte a sul do país celebram o 20 de Novembro. Intriga não encontrarmos nenhuma cidade pernambucana na lista. http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2013/11/Estados-e-Munic%C3%ADpios-que-Decretaram-Feriado-no-Dia-20-de-Novembro-dia-da-Consci%C3%AAncia-Negra1.pdf 


Porque o Dia Nacional da Consciência Negra não é feriado em Pernambuco?

Há de se refletir os motivos pelos quais as propostas de feriado nunca foram levadas a sério em Pernambuco. O que estaria por traz dessa resistência ao feriado histórico para a população negra, o que pensa a classe política sobre esse assunto?

O Estado de Pernambuco não dar a devida atenção à data, esconde fatos históricos importantes, além privar a população da cidade de um conhecimento importante e necessário. Entre eles, o papel da então capitania de Pernambuco na destruição de Palmares, seu protagonismo nas emboscadas contra o Quilombo, além do fato da cabeça de Zumbi ter sido exposta aqui no centro da cidade, mais precisamente na praça do Carmo. Seria vergonha em admitir o papel do Estado nesse massacre do povo negro ou mera omissão histórica?

A despeito do fato de o Estado de Pernambuco ainda não reconhecer como feriado o 20 de Novembro, as comemorações são muitas, tanto oficialmente, nos últimos anos tem mantido o compromisso em celebrar o dia, a semana ou até o Mês da Consciência Negra, quanto pela sociedade civil organizada.

Todavia, há de se considerar que tais comemorações, que são sim fundamentais, não podem ser resumidas em festas de rua, bailes, nem a exaltação da beleza e estética negras, ou a criatividade nos turbantes e adereços característicos das tradições de matriz africana.

Mas é preciso ir além.

O 20 de Novembro é momento tanto para o reconhecimento de que só foi possível a existência de uma legislação que declara o fim da escravidão no Brasil devido à luta política e organizada dos negros escravizados, através dos quilombos, como é preciso garantir um sentido de protesto contra as várias manifestações do racismo brasileiro, no campo do simbólico e no campo institucional.

O compromisso impulsionado na celebração do Dia da Consciência Negra é de celebrar as conquistas da população negra, com a instituição de políticas de ações afirmativas, a criação do Estatuto da Igualdade Racial, de celebrar a cultura e o reconhecimento dos territórios quilombolas.


Não podemos abrir a guarda!

A sociedade civil organizada, a população negra, os ativistas, devem aproveitar o 20 de Novembro como espaço para denunciar a pouca eficácia das políticas públicas, no tocante da desigualdade no mercado de trabalho, as políticas de segurança, que seguem coniventes com as mortes por armas de fogo da juventude negra, a violência e o preconceito contra mulheres negras, o preconceito e intolerância às tradições religiosas de matriz africana, a invisibilidade dos negros nos meios de comunicação de massa, na arte, nas propagandas institucionais.

Do outro lado, está a responsabilidade do poder público em celebrar a consciência negra como prevê a Lei 12.519\2011. Para o Estado brasileiro, celebrar a consciência negra deve ser buscar enfrentar o racismo institucional, além de realizar atividades apenas relacionadas ao calendário escolar, que conta quase que exclusivamente com o emprenho dos professores. A oficialidade deve prestar contas à sociedade a respeito do trabalho que vem desenvolvendo ao longo do ano, para reparar os danos causados por séculos de escravização, seguida pela permanente discriminação racial contra a população negra.

Confiraaqui e abaxo a agenda das celebrações pelo Dia da Consciência Negra, elaboradas pelo governo do estado e movimento  social.

O momento ainda pede questionamento e diálogo!

É preciso aproveitar a semana da Consciência Negra para o questionamento e o diálogo sobre o compromisso do poder público com a instituição de políticas públicas de ações afirmativas, dar publicidade a seus avanços na saúde, na educação, no enfrentamento a violência. É buscar a inclusão dos negros e negras no mercado de trabalho, e enfrentar para reduzir o extermínio da juventude negra, enfim que o poder público preste contas de sua tarefa em fazer cumprir o Estatuto da Igualdade Racial (lei 12.288/2010).



Um pouco da história do Quilombo dos Palmares
  
O Dia nacional da Consciência Negra - 20 de novembro, é celebrado em alusão ao dia em que se registra um dos ataques ao então Quilombo dos Palmares, ou República de Palmares, nos idos do século XVII, que terminou com a morte do seu líder maior, Zumbi.

O Território do Quilombo pertencia a capitania de Pernambuco, numa enorme faixa de terras que possibilitava a existência de um conjunto de comunidades, A Serra da Barriga que conhecemos hoje, pertence ao estado de Alagoas na cidade de União dos Palmares, ali se localizava a capital política de Palmares. 

O território de Palmares era formado por uma dezena de comunidades quilombolas que articuladas entre si, formavam uma sociedade a parte do Brasil, uma alternativa para a população negra e aliados com estruturada social e econômica, independente da coroa portuguesa. Essa estrutura social e política fez com que estudiosos considerassem o território, uma república negra.

A prática de estruturação de quilombos, espalhados por todo o território nacional, foram do ponto de vista de organização e de continuidade histórica a maior expressão de resistência à escravidão no Brasil. O historiador Clovis Moura descreve os quilombos brasileiros como lugar de resistência ao escravismo.

O Quilombo caracteriza-se basicamente pela sua conotação radical, como expressão da radicalidade diante do escravismo. Esta radicalidade vem da própria essência da sociedade escravista. Nela não pode existir posição de negação a não ser se ela for radical.... ”(Clovis Moura – história do negro no Brasil²).


________________________________________ 
[1] Enredo da Escola de Samba Vila Isabel. Rio de Janeiro, 1988).
² Texto Formas de resistência do negro escravizado e afro-descendente de Clovis Moura em História do negro no Brasil.

Mas, como diria Mãe Bethe de Oxum, a gente também se reconhece na festa!


Dia 20 de Novembro Olinda e Recife
III Festival Coco de Roda Zumbi Olinda no Bairro de Guadalupe, a partir das 16h.

Obá Nijé e Mmamão de Xambá no Alto Santa Terezinha a partir das 14h

Emoriô – Festa para se Ver Artes
Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro – Bairro do Recife

Lamento Negro
Caminhada da Consciência Negra – Saindo do Mercado do Varadouro em Olinda 16h

Cultura na Linha
Por Traz da Fábrica de café – Linha do Tiro – Recife a partir das 14h





sábado, 12 de novembro de 2016

POLÍTICA, ARTE E CULTURA NEGRA

Dentre as diversas debates e lutas históricas do movimento negro brasileiro, me chama atenção, as preocupações sobre o fato do racismo se expressar na cultura e como se traduz nas políticas culturais.



Maracatu do Baque Solto/ Acervo da Fundação Cultural Palmares  - MinC

Os vários diálogos empreendidos pelos movimentos culturais do país, os encontros, conferências e fóruns trouxeram para a cena política e para o debate de políticas públicas de cultura, as preocupações de Artistas e produtoras (es) negras (os) de teatro e dança que denunciam a flagrante discriminação de artistas negras (os) nos espetáculos de dança, teatro, programas de televisão e cinema, onde a imagem de mulheres e homens negros é, em geral, apresentada de forma negativa, estereotipada e sexualizada. Grupos e companhias de teatro e dança brasileiros como o Bando de Teatro Olodum (Bahia), Cia dos Comuns (Rio de Janeiro), Ifa Haradá de Arte Negra (Olinda), Balé Afro Bacnaré, Majê Molê e Daruê Malungo, ambos de Recife. Tiveram papel fundamental na denúncia.
Um dos personagens marcantes desse debate é Hilton Cobra, Ator Diretor e ex presidentes da Fundação Cultural Palmares. Que protagonizou a realização do I, II, II e IV Fóruns Nacionais de Performance Negra. Durante os fóruns, artistas e produtores negros refletiram:


  • Que os espetáculos de teatro e dança negros não tem espaço nas pautas dos chamados espaços de excelência como casas de espetáculos e teatros de grande referência, sobretudo nos centros urbanos de capitais;
  • A produção de cinema, televisão ou novelas, exceto nas chamadas produção “de época”, nos últimos anos não tem presença de negros como protagonistas e seus elencos não chegam a 10% de atores e atrizes negras, mesmo contando com as chamadas pontas ou figurantes. encontramos raras exceções;
  • No campo da cultura e de seus matizes, comunidades tradicionais de matriz africana, quilombolas, indígenas, ciganos, entre outros, não figuram como protagonistas, participes ou alvos de políticas públicas ou ações do sistema público ou privado de cultura. Segmentos tradicionais são praticamente invisíveis nos meios de comunicação, nos projetos de financiamento ou fomento a cultura. Esta invisibilidade configura um prejuízo para a produção do conhecimento sobre a cultura brasileira, para a inclusão sócio econômica de populações historicamente discriminadas, em especial a população negra e reforça a construção de imagens negativas atribuídas a essa população, fazendo do racismo institucional um mote pelo qual as políticas públicas na área de cultura são pensadas.

Conclui-se que é preciso seguir firmes na lua para que hajam políticas públicas de cultura comprometidas com a desconstrução do racismo. Para que os gestores de cultura não se omitam diante das necessidades de ações afirmativas para a arte e a cultura negra, esperamos que a cultura faça sua parte no enfrentamento ao racismo.

O debate empreendido por artistas e produtores negros gerou em 2013 os editais afirmativos do Ministério da Cultura - MINC  numa parceria Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República - SEPPIR e Biblioteca Nacional, Secretaria de Áudio Visual do MINC e FUNARTE.
  Hilton Cobra, ator e diretor/ Acervo 

No primeiro momento da divulgação dos editais, houve pouca participação nas inscrições. O MINC em parceria com a SEPPIR observou que a pouca adesão se deram por dois motivos principalmente. A comunidade artística e produtores negros já não confiavam mais na política de editais, e pelo fato da forma de divulgar não ser suficiente para atingir o segmento. Assim a tomou-se a iniciativa de intensificar a divulgação, alargar os prazos de inscrições e realizar oficinas regionais sobre editais. O resultado foi mais de oito mil inscrições de projetos de artistas e produtores negros. O que nos leva a crer que existe uma grande demanda na área.

Lindivaldo Junior Afro

POLÍTICA, ARTE E CULTURA NEGRA

Dentre as diversas debates e lutas históricas do movimento negro brasileiro, me chama atenção, as preocupações sobre o fato do racismo se expressar na cultura e como se traduz nas políticas culturais.



Maracatu do Baque Solto/ Acervo da Fundação Cultural Palmares  - MinC

Os vários diálogos empreendidos pelos movimentos culturais do país, os encontros, conferências e fóruns trouxeram para a cena política e para o debate de políticas públicas de cultura, as preocupações de Artistas e produtoras (es) negras (os) de teatro e dança que denunciam a flagrante discriminação de artistas negras (os) nos espetáculos de dança, teatro, programas de televisão e cinema, onde a imagem de mulheres e homens negros é, em geral, apresentada de forma negativa, estereotipada e sexualizada. Grupos e companhias de teatro e dança brasileiros como o Bando de Teatro Olodum (Bahia), Cia dos Comuns (Rio de Janeiro), Ifa Haradá de Arte Negra (Olinda), Balé Afro Bacnaré, Majê Molê e Daruê Malungo, ambos de Recife. Tiveram papel fundamental na denúncia.
Um dos personagens marcantes desse debate é Hilton Cobra, Ator Diretor e ex presidentes da Fundação Cultural Palmares. Que protagonizou a realização do I, II, II e IV Fóruns Nacionais de Performance Negra. Durante os fóruns, artistas e produtores negros refletiram:


  • Que os espetáculos de teatro e dança negros não tem espaço nas pautas dos chamados espaços de excelência como casas de espetáculos e teatros de grande referência, sobretudo nos centros urbanos de capitais;
  • A produção de cinema, televisão ou novelas, exceto nas chamadas produção “de época”, nos últimos anos não tem presença de negros como protagonistas e seus elencos não chegam a 10% de atores e atrizes negras, mesmo contando com as chamadas pontas ou figurantes. encontramos raras exceções;
  • No campo da cultura e de seus matizes, comunidades tradicionais de matriz africana, quilombolas, indígenas, ciganos, entre outros, não figuram como protagonistas, participes ou alvos de políticas públicas ou ações do sistema público ou privado de cultura. Segmentos tradicionais são praticamente invisíveis nos meios de comunicação, nos projetos de financiamento ou fomento a cultura. Esta invisibilidade configura um prejuízo para a produção do conhecimento sobre a cultura brasileira, para a inclusão sócio econômica de populações historicamente discriminadas, em especial a população negra e reforça a construção de imagens negativas atribuídas a essa população, fazendo do racismo institucional um mote pelo qual as políticas públicas na área de cultura são pensadas.

Conclui-se que é preciso seguir firmes na lua para que hajam políticas públicas de cultura comprometidas com a desconstrução do racismo. Para que os gestores de cultura não se omitam diante das necessidades de ações afirmativas para a arte e a cultura negra, esperamos que a cultura faça sua parte no enfrentamento ao racismo.

O debate empreendido por artistas e produtores negros gerou em 2013 os editais afirmativos do Ministério da Cultura - MINC  numa parceria Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República - SEPPIR e Biblioteca Nacional, Secretaria de Áudio Visual do MINC e FUNARTE.
  Hilton Cobra, ator e diretor/ Acervo 

No primeiro momento da divulgação dos editais, houve pouca participação nas inscrições. O MINC em parceria com a SEPPIR observou que a pouca adesão se deram por dois motivos principalmente. A comunidade artística e produtores negros já não confiavam mais na política de editais, e pelo fato da forma de divulgar não ser suficiente para atingir o segmento. Assim a tomou-se a iniciativa de intensificar a divulgação, alargar os prazos de inscrições e realizar oficinas regionais sobre editais. O resultado foi mais de oito mil inscrições de projetos de artistas e produtores negros. O que nos leva a crer que existe uma grande demanda na área.

Lindivaldo Junior Afro