sábado, 12 de novembro de 2016

POLÍTICA, ARTE E CULTURA NEGRA

Dentre as diversas debates e lutas históricas do movimento negro brasileiro, me chama atenção, as preocupações sobre o fato do racismo se expressar na cultura e como se traduz nas políticas culturais.



Maracatu do Baque Solto/ Acervo da Fundação Cultural Palmares  - MinC

Os vários diálogos empreendidos pelos movimentos culturais do país, os encontros, conferências e fóruns trouxeram para a cena política e para o debate de políticas públicas de cultura, as preocupações de Artistas e produtoras (es) negras (os) de teatro e dança que denunciam a flagrante discriminação de artistas negras (os) nos espetáculos de dança, teatro, programas de televisão e cinema, onde a imagem de mulheres e homens negros é, em geral, apresentada de forma negativa, estereotipada e sexualizada. Grupos e companhias de teatro e dança brasileiros como o Bando de Teatro Olodum (Bahia), Cia dos Comuns (Rio de Janeiro), Ifa Haradá de Arte Negra (Olinda), Balé Afro Bacnaré, Majê Molê e Daruê Malungo, ambos de Recife. Tiveram papel fundamental na denúncia.
Um dos personagens marcantes desse debate é Hilton Cobra, Ator Diretor e ex presidentes da Fundação Cultural Palmares. Que protagonizou a realização do I, II, II e IV Fóruns Nacionais de Performance Negra. Durante os fóruns, artistas e produtores negros refletiram:


  • Que os espetáculos de teatro e dança negros não tem espaço nas pautas dos chamados espaços de excelência como casas de espetáculos e teatros de grande referência, sobretudo nos centros urbanos de capitais;
  • A produção de cinema, televisão ou novelas, exceto nas chamadas produção “de época”, nos últimos anos não tem presença de negros como protagonistas e seus elencos não chegam a 10% de atores e atrizes negras, mesmo contando com as chamadas pontas ou figurantes. encontramos raras exceções;
  • No campo da cultura e de seus matizes, comunidades tradicionais de matriz africana, quilombolas, indígenas, ciganos, entre outros, não figuram como protagonistas, participes ou alvos de políticas públicas ou ações do sistema público ou privado de cultura. Segmentos tradicionais são praticamente invisíveis nos meios de comunicação, nos projetos de financiamento ou fomento a cultura. Esta invisibilidade configura um prejuízo para a produção do conhecimento sobre a cultura brasileira, para a inclusão sócio econômica de populações historicamente discriminadas, em especial a população negra e reforça a construção de imagens negativas atribuídas a essa população, fazendo do racismo institucional um mote pelo qual as políticas públicas na área de cultura são pensadas.

Conclui-se que é preciso seguir firmes na lua para que hajam políticas públicas de cultura comprometidas com a desconstrução do racismo. Para que os gestores de cultura não se omitam diante das necessidades de ações afirmativas para a arte e a cultura negra, esperamos que a cultura faça sua parte no enfrentamento ao racismo.

O debate empreendido por artistas e produtores negros gerou em 2013 os editais afirmativos do Ministério da Cultura - MINC  numa parceria Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República - SEPPIR e Biblioteca Nacional, Secretaria de Áudio Visual do MINC e FUNARTE.
  Hilton Cobra, ator e diretor/ Acervo 

No primeiro momento da divulgação dos editais, houve pouca participação nas inscrições. O MINC em parceria com a SEPPIR observou que a pouca adesão se deram por dois motivos principalmente. A comunidade artística e produtores negros já não confiavam mais na política de editais, e pelo fato da forma de divulgar não ser suficiente para atingir o segmento. Assim a tomou-se a iniciativa de intensificar a divulgação, alargar os prazos de inscrições e realizar oficinas regionais sobre editais. O resultado foi mais de oito mil inscrições de projetos de artistas e produtores negros. O que nos leva a crer que existe uma grande demanda na área.

Lindivaldo Junior Afro

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