PELA APROVAÇÃO DA LEI DE EMERGÊNCIA CULTURAL
Lindivaldo Junior[i]
A denominada Lei
Emergencial da Cultura, (PL 1075/2020)¹ , que entra na pauta do congresso
nacional esses dias, podendo ser votado na próxima terça-feira (26/05), está se
tornando um avanço para o setor cultural. O projeto de lei que visa socorrer o
setor cultural num momento tão difícil da vida brasileira, propõe apoiar os agentes que formam a cadeia
produtiva da cultura e aciona recursos do Fundo Nacional de Cultura - FNC.
A força do projeto está em seu conteúdo mas principalmente na articulação do congresso em torno da pauta, e no envolvimento e mobilização do setor cultural, que tem realizado debates e web conferencia de gestores de cultura, conselheiros, e ativistas. A sociedade civil tem contribuído com o conteúdo do projeto e principalmente com o trabalho da relatora, a deputada Jandira Fegali – PC do B.
Desde o primeiro
momento de discussão das PLs que apresentaram preocupação com o segmento
cultural, parlamentares pernambucanos como Carlos Veras, Marília Arraes, Tadeu
Alencar, Humberto Costa entre outros, estiveram acompanhando o trabalho da
comissão de cultura, subscreveram a primeira versão do projeto, fortaleceram e
protagonizaram propostas.
Com tão ampla
articulação, a expectativa é que o PL seja aprovado com maioria. E como Projeto
emergencial que prevê uma aplicação de recursos por meio dos órgãos de cultura
dos estados e municípios brasileiros, temos gestores dos diversos estados
envolvidos na mobilização de suas bancadas estaduais no parlamento. Com um execução prevê o uso do recurso do FNC,
na prática vai colocar para funcionar o Sistema Nacional de Cultura – SNC, negligenciado
pelo governo federal.
Para Pernambuco o
recurso deve ficar em aproximadamente 180 milhões, que poderá ser gasto em
ajuda ao pessoas, ativos culturais e equipamentos, devendo mobilizar toda uma
cadeia produtiva da cultura, fortalecer o trabalho atual e preparar o setor
para um retorno pós-pandemia.
Não nos enganemos, todo
esse processo não será fácil, a operacionalização da lei, a liberação dos
recursos, os convênios, não serão processos simples. O governo federal, inimigo
da cultura, vai fazer de tudo para não efetivar o PL. A articulação gestores da
cultura, da sociedade civil, da câmara e do senado independente de partido é
que vai fazer a diferença.
Atores, atrizes,
cantores, mestres repentistas, percussionistas, técnicos de som, iluminadores,
costureiras, artesãos, bilheteiros, produtores, diretores, bailarinos,
pipoqueiros e tantos outros que fazem a cadeia produtiva da cultura tiveram
seus trabalhos interrompidos, sem público, clientes e ou espaços para escoar
sua produção.
A chamada cadeia
produtiva da cultura é responsável por parte do Produto Interno Bruto do país,
mas uma crise se abateu também sobre o setor cultural, que foi o primeiro a
parar suas atividades diante do crescimento da pandemia que ameaça a vida, onde
a principal forma de conter seu crescimento é a prevenção, portanto seguindo os
cuidados com a higiene e a circulação de pessoas, basicamente.
Aqui em Pernambuco,
onde a cultura é pulsante, onde as matrizes africanas e indígenas alimentam as
produções, fortalecem auto-estima, e onde a diversidade cultural é parte do
orgulho pernambucano e do discurso político, tudo está parado e o setor esquecido,
a míngua.
Lideranças e mestres da cultura trabalham com muita criatividade para passar por esse memento, seguem firmes em suas ações artísticas, criativas e solidários. A Yalorixá Bete de Oxum, conselheira do Conselho Estadual de Política Cultural, é uma dessas lideranças culturais que acompanham e fazem o controle social da política cultural em Pernambuco, chama atenção e afirma: ¨Estamos trabalhando, fazendo rifa. Nosso povo pobre e preto sempre excluído, sempre foi assim e agora não é diferente né? Os que tem que ter vergonha são esses políticos que não tem compromisso.¨ (Recife, maio 2020).
A cultura é fundamental
para a vida, a sociabilidade, para o fortalecimento das relações humanas e para
o bem estar, tem socorrido cada um e cada uma com musica, poesia, filmes
séries, contos que tem servido de alento quando os noticiários mostram pessoas
sofrendo com uma doença que ainda não temos a cura, quando vizinhos, amigos,
familiares adoecem e partem sem se despedir.
Mas o setor cultural também pede socorro. Quem faz cultura são trabalhadores, e não o fazem apenas pelo prazer, para manter suas tradições, sobrevivem de seus ofícios.
Neste sentido, um a
setor ativo politicamente, desde que iniciou a pandemia busca o dialogo com o
poder público principalmente no estado e no município. Pautando sua preocupação
com os que vivem de sua arte.
O diálogo do poder
público com a sociedade existe e não é de hoje, e temos mecanismos para isso. Pernambuco
tem três conselhos de cultura (Conselho de Política Cultural, Conselho de
Preservação do Patrimônio e o Conselho do Áudio Visual), vinculados a estrutura
do governo estadual. Ali atuam agentes da sociedade civil que cobram, discutem,
propõem.
Distante de fazer um
diagnóstico da política cultural pernambucana, devemos refletir qual a causa de
tanta demora por parte do poder público em realizar uma ação emergencial para o
segmento, e qual o motivo do atraso nos pagamentos de cachês e serviços já
realizados.
Pasmem mesmo
conscientes do papel dos serviços culturais e da movimentação da cadeia
produtiva da cultura e do turismo nesses períodos, as prefeituras de municípios
como Recife, Olinda, Jaboatão e governo estadual ainda não concluíram seus
pagamentos de serviços realizados no carnaval e não acenam para ações emergenciais.
#leiemergenciacultural
#aprovaeergenciacultural
Deputada Benedita da Silva - PT/RJ, Autora do projeto e Presidente da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados
[i] Lindivaldo Oliveira Leite Junior – Ativista do Movimento Negro e do Movimento Cultural, tem formação em História, pós-graduado em Política e Gestão Cultural pela UFRB e Mestrando em Estado, Governo e Políticas Públicas na FLACSOS – Faculdade Latino Americana de Políticas Sociais.