CULTURA COMO ESPAÇO DE PROMOÇÃO A SAÚDE
Nesse momento de COVID-19 a cultura é um alento. É fundamental.
por Lindivaldo Junior*
Estamos vivendo tempos difíceis, às
voltas de um grande problema de saúde. Uma crise mundial devido à pandemia do
novo coronavírus já espalhado nos diversos continentes. Autoridades políticas,
pesquisadores e profissionais da saúde têm afirmado o papel importante da
sociedade para barrar o avanço da doença.
O isolamento social, paralisação de
serviços não essenciais, o uso de máscara, o cuidado com idosos e pessoas mais
vulneráveis têm sido a orientação até que se encontre uma solução mais eficaz
ou definitiva para vencer a pandemia. Em momentos como esses, a cultura é um
alento. É fundamental.
Ana Benedita, atriz e contadora de
história
Estamos vivendo tempos difíceis, às
voltas de um grande problema de saúde. Uma crise mundial devido à pandemia do
novo coronavírus já espalhado nos diversos continentes. Autoridades políticas,
pesquisadores e profissionais da saúde têm afirmado o papel importante da
sociedade para barrar o avanço da doença.
O isolamento social, paralisação de
serviços não essenciais, o uso de máscara, o cuidado com idosos e pessoas mais
vulneráveis têm sido a orientação até que se encontre uma solução mais eficaz
ou definitiva para vencer a pandemia. Em momentos como esses, a cultura é um
alento. É fundamental.
Entre os serviços considerados não
essenciais que foram suspensos como parte das medidas para conter o avanço da
COVID-19 no nosso estado estão os clubes, teatros, casas de espetáculo, cinemas
e as atividades de grupos culturais. A pandemia paralisou nosso setor cultural.
Mais que um problema econômico, a
paralisação de ações desses serviços tem interferência na função primordial da
cultura, o intangível. Notadamente, a sociabilidade e fortalecimento das
relações sociais e laços afetivos promovidos pela cultura.
A música, a dança, a poesia, o cinema,
as diversas produções e expressões culturais que atuam como forma de se
conectar com as coisas boas e singulares da vida, com o sonho, as lembranças, o
acolhimento, a esperança de dias melhores, são essenciais. Manter suas
dinâmicas na crise se configura um desafio.
O Brasil tem orgulho de sua cultura,
de sua diversidade e das políticas para o setor historicamente. No entanto, a
realidade o que temos hoje é um governo federal desconectado da importância dos
programas de assistência social e de saúde pública, que não promove políticas
culturais, nem mantém aquelas que lutamos tanto para ver implementadas.
O governo Bolsonaro trabalha para o
desmonte do patrimônio público. É subserviente ao capital, dissemina o ódio e
opera um modelo familiar e patrimonialista. Sua condução política é
desequilibrada, incapaz do diálogo com a sociedade e os outros poderes
constituídos. Promove o sucateando de áreas fundamentais como educação e saúde,
ao ponto que defende projetos de lei que inviabilizam as condições de governabilidade,
como o PL do congelamento dos gastos.
Perseguidor, antidemocrático e
xenófobo, Bolsonaro vê a todos que estão fora de sua base como inimigos. Mente,
desrespeita organizações internacionais, defende teorias completamente
equivocadas e sem reflexão profunda, não cumpre recomendações básicas da
Organização Mundial de Saúde - OMS e do Ministério da Saúde. Bolsonaro e sua
turma atrapalham o trabalho coletivo e a solidariedade, necessários em tempos
de pandemia.
Todavia, a pressão social e política
têm dado sua contribuição e ajudado o país. Pesquisas apontam que parcela
significativa da população aprova e adere às orientações da OMS para o combate
ao coronavírus. Tais pressões surtiram
efeito, e levaram o Congresso a aprovar ações emergenciais que reafirmam a
importância do Sistema Único de Saúde – SUS e o Sistema de Assistência Social –
SUAS como instituições essenciais em qualquer tempo.
As ações se somam ao conjunto de
iniciativas públicas de estados e municípios comprometidos com o bem-estar
social, com destaque para a articulação e compromisso dos governadores da
Região Nordeste, que têm impulsionado políticas públicas de proteção da
população e melhoria do acesso atendimento à saúde, na tentativa de enfrentar
as deficiências do SUS.
Os programas e ações governamentais
têm nos movimentos sociais - organizações, coletivos culturais e pessoas
individualmente - grandes colaboradores para o cuidado com as pessoas, em
especial as pessoas em situação de vulnerabilidade. Tendo em vista que o isolamento
e a suspensão de algumas atividades profissionais são compreendidos como
medidas para barrar o crescimento da pandemia, aprofundando os problemas de
exclusão econômica e social.
Assim, ao tempo em que se pensa em
ações que amenizam os impactos da crise na economia e no agravamento dos
problemas sociais já existentes (desde 2017, o Brasil voltou ao mapa mundial da
fome e cidades como Recife tem um terço de sua população a baixo da linha da
pobreza), se faz necessário um olhar sobre o segmento cultural, sua dinâmica e
real contribuição para a qualidade de vida das pessoas.
Compreender que a cultura é fonte de
renda, mecanismo impulsionador de desenvolvimento econômico e social e
principalmente seu papel social, talvez seja tão importante quanto às outras
iniciativas para o cuidado com as pessoas em tempos de pandemia.
O isolamento social também reforçou
a internet como mecanismo de disseminação da arte, aulas, palestras, bate-papo.
As transmissões ao vivo pelas redes sociais, ou lives, têm transmitido mensagens de força e esperança que são
importantes para amenizar o sentimento de terra arrasada, provocada tanto pela
pandemia quando pelo desastre que é o governo Bolsonaro.
Mas, infelizmente, nem toda
população têm acesso ao que é produzido na rede.
Temos visto que impactos para além
da economia, embora toda uma cadeia produtiva da cultura com seus trabalhadores
são afetados pelo fechamento de casas de espetáculos, cinemas, bares, espaços
culturais, cancelamento de festivais, ciclos festivos e eventos tradicionais
têm efeito, mas nas relações humanas que são fundamentais para a saúde das
pessoas e das comunidades.
Mestres das tradições culturais
populares, das culturas negras, indígenas, lideranças que constituem
referências positivas para a história do país e, sobretudo para as suas
comunidades e povos, personagens das festas tradicionais populares como rainhas
de maracatu, mestres de apito, caboclos, que no seu cotidiano constituem
referencia positiva e atuam como lideranças em seus territórios. Suas ações são
fundamentais para a promoção da vida.
Elas são Madrinhas, benzedeiras,
parteiras, doulas, mães e pais de santo, dirigentes de grupos e associações que
precisam ser valorizados e fortalecidos nesse contexto que vivemos.
Tais lideranças, não esperam pelo
poder público para exercer seu papel acolhedor, orientador e solidário,
expressando o que tem de mais profundo no que se refere à saúde integral do
indivíduo, que não acontece só em tempos de pandemia.
A sede de uma agremiação
carnavalesca, os centros culturais, pontos de cultura, bem como as casas de
Candomblé e Umbanda, mantenedoras de tradições culturais de matriz africana,
constituem espaços de acolhimento e promoção à saúde.
O legado e a reconhecida solidez das
políticas nacionais de cultura elaboradas por governos anteriores no Brasil
deixaram como frutos ações locais, focadas nos estados e municípios, como a
construção de seus planos setoriais de cultura de acordo com as espeficidades
de cada localidade.
Essa perspectiva coloca nas
políticas locais uma ponta de esperança para a valorização do setor cultural do
estado e indicam que o governador e os prefeitos devem arcar com os pagamentos
para os setores culturais por atividades realizadas antes da pandemia e
reforçar a atuação para que a cultura cumpra seu papel no desenvolvimento
social e econômico, e o seu inegável papel como espaço de cuidado com as
pessoas.
É preciso pensar ações públicas
emergenciais para a cultura, órgãos estaduais de cultura podem promover
chamadas públicas ou editais emergenciais para fortalecer as iniciativas de
grupos populares, artistas em suas iniciativas nas comunidades e também por
meio das redes sociais. Esse compromisso é fundamental para reconhecer que a
cultura é promotora do bem estar, da proteção integral, de promoção à saúde.
#fiqueemcasa #forabolsonaro
Recife, 23 de Abril de 2020.
*LEITE JUNIOR, Lindivaldo - Tem formação em história pela UFRPE,
pós-graduado em Gestão e Políticas Culturais pela UFRB, Mestrando em Governo e Políticas Públicas pela FLACSOS
REFERÊNCIAS
SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso. GMT Editores
Ltda. Rio de Janeiro, 2019.
RUBIM, Albino.
Política Cultural e Gestão Pública no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo, 2016.
MORAES, Regina.As
metas do Plano Nacional de Cultura. Brasília: Ministério da Cultura, 2003.