Carapinha, Afro, Cacheado,
Crespo. Eu prefiro dizer Pixaim mesmo,
Criada
na década de noventa em Olinda - PE, a Noite do Cabelo Pixaim reverencia o
cabelo do negro, o relaciona a identidade, a afirmação da cultura e a
valorização de uma estética e beleza próprias da população negra.
Na década de noventa, em
Pernambuco, uma juventude negra antenada e consciente do seu papel no combate
ao racismo, fez dos palcos dos ensaios e festas do Afoxé Alafin Oyó seu lugar de militância social e política, criando
festas como a Noite do Cabelo Pixaim,
a Noite do Cafuné, entre outras.
Essa militância promoveu um
intenso debate sobre as várias manifestações do racismo, se utilizando da
criatividade das expressões culturais negras como forma de expandir suas
mensagens e seus discursos. Com a Noite
do cabelo Pixaim, trouxe à cena um elemento fundamental na luta pela
afirmação da estética e beleza negra: o cabelo crespo.
Falar sobre e mostrar o
cabelo crespo é decisivo para o debate, já que esse é o principal alvo da
discriminação e do preconceito. E isso se torna ainda mais perverso para
crianças e mulheres, que são oprimidas pela ditadura do cabelo liso e da
estética branca, o que prejudica a vida social e familiar.
Atualmente, e a partir de
uma maior presença negra nas universidades e entre os pesquisadores, os estudos
sobre cabelo e estética negras nos ajuda a entender um pouco desse complexo
universo de exclusão e inferiorização da população negra, por meio da negação
do corpo negro, em especial do cabelo. Por
outro lado, também torna possível acompanhar a exaltação ao universo da criatividade
e resistência negra identitária, por meio de penteados afro, cortes
específicos, salões e movimentos afirmativos, que compreendem o cabelo numa
perspectiva de identidade.
Em
torno da manipulação do corpo
e
do cabelo do negro,
existe
uma vasta história.
Uma
história ancestral e uma memória.
(Dra.
Nilma Lino Gomes – Professora e Pesquisadora - UFMG)
Noite
do Cabelo Pixaim
Como parte de um movimento que
teve início na década 90 amanhã, sábado,
26 de Novembro, o Clube Atlântico de
Olinda, recebe a edição anual da Noite
do Cabelo Pixaim. Esse é mais um momento de exaltação à estética, beleza e
cultura negra. É mais um dia de resistência. Prepare-se, não esconda seu
cabelo, solte sua “juba”, explore a criatividade dos cortes, trançados e
penteados afro e vá!!!
Já chegue cantando uma das
músicas do cardápio do Afoxé Alafin
e reafirme sua identidade!
A festa é regada a muita música percussiva,
culinária afro, arte e moda, onde também acontece o 10º Festival de Música do Alafin, que vai escolher a música do Carnaval
2017. Na programação - Afoxé Alafin Oyó, Filhos de Dona Maria do DF, Lamento
Negro, NK Cumbia, culinária afro, desfile de roupas e cabelos.
Raça
Negra, uma questão de identidade,
Cabelo
Pixaim, cor da pele preta,
Meu
amigo não tenha dúvida,
Você
é da raça negra.
Raça
negra, uma questão de Identidade
Afoxé
Alafin Oyó
Ávidos por uma atuação
independente, por debater temas, fazer formação política e denunciar as várias
formas de expressão do racismo brasileiro, um grupo de jovens militantes do
movimento negro pernambucano, que compunham a Ala de Xangô do Afoxé Ará Odé, grupo
também de cidade de Olinda, criou o seu próprio afoxé: o Afafin Oyó.
A manifestação cultural é,
em primeiro lugar, uma agremiação carnavalesca, que atua em cortejo, levando a
frente seu estandarte e carregando seus símbolos. Tem sua versão para o palco,
apresentando-se como uma atração artística de música e de dança, bem como para
as atividades ligadas a religiosidade, vivendo um constante desafio para não
perder suas características e tradições culturais.
O ritmo do Ijexá, tocado nas
casas de Candomblé, guardam suas semelhanças e identidades dos terreiros, com
instrumentos como atabaque (Rum, Rumpi e o Lé), o agogô, o tantam e o agbê como
base fundamental da sonoridade Nagô Yorubá.
Os cânticos fazem referência
aos orikis (histórias) dos Orixás (divindades das tradições afro religiosa), a suas
cores e arquétipos e a estética exalta as nações de Candomblé, as quais estão vinculadas
a afirmação de uma identidade negra característica do seu território físico e
sagrado, e do contexto em que o afoxé surge.
Tradicionalmente, cada afoxé
teu seu Orixá como patrono, que estão representados em suas cores, adereços e
vestimentas. O exemplo primeiro, pelo menos até onde se sabe, é o Afoxé Filhos de Gadhi da Bahia, que
embora não carregue no seu nome do Orixá patrono, o faz nas cores e nas músicas,
em referência e homenagem explicita a Oxalá. Sem medo da repressão, do
preconceito e da intolerância, vestem branco, soltam pombos e reafirma a cor da
divindade funfum.
Em Pernambuco, e pode ser
assim no conjunto dos afoxés existente em outros estados brasileiros, os grupos
seguem a tradição refletida primeiramente no nome. O Afoxé Ará Odé, o mais
antigo em atividade no estado, tem o Orixá Oxossi (ou Odé) como patrono, veste-se
as cores azul claro e branco. O Afoxé Oxum Pandá – tem Oxum como patronesse,
usam o amarelo. O Alafin Oyó – que tem o
Orixá Xangô como patrono, veste vermelho e branco.
Os demais afoxés, mais de
vinte grupos em Pernambuco, seguem essa tradição que nos ajuda a identificar o
patrono do afoxé pela cor. Vermelho – Xangô, Azul – Ogum, Rosa ou Marrom – Oyá,
e as homenagens seguem, regra geral, refletida nas cores e símbolos de seus
orixás patronos.
CABELO
O legado da luta do
movimento negro brasileiro, toda a sua movimentação, estudos e protestos em
torno do cabelo como identidade fez surgir, não só a noite do Cabelo Pixaim,
mas um conjunto de outras festas, atos, debates, empreendimentos comerciais e
movimentos que exaltam e também discutem a afirmação da identidade negra por
meio do cabelo. Um exemplo é Movimento Cabelaço
em Pernambuco e da Marcha do Empoderamento Crespo na Bahia,
entre outros.
Fez também surgir uma
movimentação que pode ser identificada como a moda ou tendência do cabelo
crespo, afro ou black. O certo é que, moda ou não, essa explosão de cabelos
negros que encontramos hoje pelas ruas é sim uma forma de rebeldia e afirmação
de identidade negra para enfrentar o racismo presente no cotidiano, se mostrar insurgente
e empreender uma marca positiva.
É pura ousadia, numa
sociedade racista que atribui e aplica estereótipos negativos ao cabelo pixaim,
o adjetivando como “ruim”, “duro”, “bombril”.
Nós os negros sabemos o
quanto um jovem, uma jovem que assumem seu cabelo “ao natural”, se sente forte,
reconhecido, e por meio do cabelo, promovem um exercício cotidiano e corpóreo
de cidadania.
O
Cabelo é um dos elementos mais visíveis e destacados do corpo. Em todo grupo
étnico ele é tratado e manipulado, todavia a sua simbologia difere de cultura
para a cultura. Esse caráter universal e particular do cabelo atesta a sua
importância como símbolo indenitário. (Procure
ler - Dra. Nilma Lino Gomes – Professora e Pesquisadora da UFMG)
PARA
DISCUTIR O TEMA RECOMENDA-SE:
Exposição – Cabelo, uma
questão de identidade
Site – Geledés, instituto da
mulher negra
Professora Doutora Nilma
Lino Gomes – UFMG